domingo, 29 de maio de 2011

Porca-dos-sete-leitões


"A porca-dos-sete-leitões... Essa gosta mais de vivê rodeano igreja na vila e as cruis da estrada, c'oa leitoada chorando de atrais.

— É má?...

— Cumo quê...

— Intê que não... — interrompeu a Cristina...

— Essa sombração é muito bão: só persegue os home casado que vem fora de hora pra casa..."
(Cornélio Pires. Conversas ao pé do fogo)

* * *

Aparece sempre à noite, atrás das igrejas, nas encruzilhadas, nos becos escuros, perto dos cruzeiros ou nas ruas desertas. A porca, roncando surdamente, é acompanhada de seus sete filhotinhos, que berram ao seu redor. Não faz mal a ninguém. Dizem que ela prefere assombrar os homens casados que voltam para casa fora de hora. Se o homem volta-se para encará-la, porca e leitões somem depois de alguns segundos, reaparecendo e sumindo novamente.

É mito de origem portuguesa e ocorre principalmente nas regiões centrais e meridionais do Brasil. Na versão recolhida por Karl von den Steinen, em Cuiabá, é a alma de uma mulher pecadora que interrompeu a gravidez. Tantos quantos forem os abortos, serão os leitões. Em algumas versões paulistas, é uma rainha que teve sete filhos e foram amaldiçoados por vingança de um feiticeiro. No imaginário português é o próprio diabo, ou coisa mandada por ele e, por vezes, também toma a forma de outros animais.

Segundo Luís da Câmara Cascudo (Dicionário do folclore brasileiro): "A porca, símbolo clássico dos baixos apetites carnais, sexualidade, gula, imundície, surge inopinadamente diante dos freqüentadores dos bailes noturnos e locais de prazer".

sábado, 28 de maio de 2011

Vaqueiro misterioso


“...era um vaqueiro ambulante, misteriosamente aparecendo por fazendas em ocasiões de difíceis vaquejadas em que pintava proezas admiráveis. Nos sertões do norte mineiro dele se fala ainda com essa crença supersticiosa cheia de infância e desalinho, marcando datas, lugares, perigos inimagináveis, quase impossíveis, salvando gerações, vivendo de todos e por toda a parte, sempre o mesmo, inextinguível. Franzino, mulato de mediana estatura, pouco idoso, falando pouco e muito descansado, sempre vestido de perneira e gibão, cavalgando eternamente uma égua muito feia e magra ocultando a larga fronte, olhar expressivo e barba espessa e comprida sob um grande e desabado chapéu de couro — tal a figura simpática do Borges. Quase nunca era procurado porque, boêmio dos campos, sua residência certa ignorava-se.”
(Manuel Ambrósio. Brasil interior)



* * *

Ele aparece de repente nas fazendas ou em regiões pastoris. Não se sabe ao certo de onde veio ou onde nasceu . Tem vários nomes e, algumas vezes, nome nenhum. Sua montaria é um cavalo velho ou uma égua de aparência cansada, imprestáveis. Está sempre vestido humildemente, com um gibão de couro surrado e chapéu de vaqueiro, encobrindo o seu olhar misterioso.

Aparece nas ocasiões onde há vaquejadas ou apanha de gado novo, ferra ou batida para campear. Devido à sua aparência, torna-se alvo de zombaria dos demais vaqueiros e campeadores. Contudo, vence a todos os outros. É o mais ágil, mais destro, mais afoito deles. O sabedor de segredos infalíveis, o melhor, o herói. É aclamado pela multidão, desejado pelas mulheres, o convidado de honra do fazendeiro. Ele, porém, recusa todas as honrarias e desaparece da mesma forma que surgiu. Ninguém sabe como e nem para onde foi.

É mito de origem lusitana, com variações locais, que ocorre em todas as regiões de pastorício no Brasil: Nordeste, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia. Para Luís da Câmara Cascudo, "moralmente, é um símbolo da velha profissão heróica, sem registros e sem prêmios, contando-se as vitórias anônimas superiores às derrotas assistidas pelas serras, grotões e várzeas, testemunhas que nunca prestarão depoimento para esclarecer o fim terrível daqueles que vivem correndo atrás da morte."

sexta-feira, 27 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Carta do Cacique Seattle, em 1855


Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Provérbios

Sem amor não se vive
Seja menos devota e mais religiosa
Seja dono de sua boca para não ser escravo de suas palavras
Seja como o sândalo, que perfuma o machado que o fere
Sei que tudo é nada
Segredo entre três, só matando dois
Segredo em mulher é pão em boca de pobre
Segredo em mulher é leite em boca de gato
Se você tem olho gordo, use colírio diet
Se você não é o que parece, pareça o que é
Se você dormir na direção, seus parentes serão acordados
Se você dormir dirigindo, os seus parentes serão acordados
Se um dia a vida lhe der as costas, passe a mão na bunda dela
Se tens segredos, não contes às mulheres
Se tamanho fosse documento o elefante era dono do circo
Se seios fossem buzinas, a cidade não dormia
Se saliva fosse dinheiro, boca de pobre seria seca
Se quer ser feliz por um minuto, vinga-te. Se quer ser feliz por toda a vida, perdoa
Se pinga fosse fortificante, brasileiro seria gigante
Se pinga fosse fortificante o brasileiro seria um gigante

Crônicas de um caipira : O Amor.(texto de Fábio Arreguy)


Tudo aconteceu naquela tarde…
Tava eu i a Lalinha namorando! Num alembro como começô, mais a gente si disintendeu. I nessas hora só sai bobage da boca. I cada um foi pro seu canto. Num oiei pra trais i sigui meu caminho. Tava co coração na mão i uma baita vontade di chorá,mais diz qui home num chora. I como eu so minino disimbestei a chorá.

Meu coração tava muito machucado, num quiria tê brigado ca Lalinha. Meu coração quiria vortá pra trais i pidi discurpa mais eu tava magoado i num dei trela pra ele. Cheguei im casa triste, derreado e di coração im caquinho. Fui pra minha cama pra isquecê da vida,mais a vida num isquece a gente!I ela mi dizia:”Corage Home!”.

Num importa quem seja,as palavra di um amigo sempre ajuda nessa hora…Se bem qui tem amigo que tenta ajudá di sua manera, mais nem sempre funciona. Gozado qui,si ocê tá no lugar mais bonito do mundo,quando num tá co quem ocê gosta tudo fica cinza,tudo fica sem cor,sem gosto. Co tempo as cor inté vorta, mais sem brio, apagada!

Aí o coração da gente já vai acompanhando… Meio costurado, mais muito dolorido. Num istar co quem ocê gosta dexa um vazio na gente. A tristeza toma o lugar da alegria i a gente sente um vazio grandão como o mundo.
Ansim conheci pessoarmente o meu distino. Ele mi insino qui minhas iscoias traiz consequência i qui nada é impossíver de mudá. Dispois mi deu um presente imbolado dentro di uma caxa.

Ansim vortei a acreditá no amor.Ah! O amor! Dexa o mundo mais colorido, dexa a gente mais leve i o coração im paiz! I o quê era o presente? O tempo! O mió remédio pra tudo! O mió remédio pra eu i a Lalinha.

terça-feira, 24 de maio de 2011

José Saramago (Poema à boca fechada)


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

Às Mães






Que ao dar a benção da vida,
entregou a sua...


Que ao lutar por seus filhos,
esqueceu-se de si mesma...

Que ao desejar o sucesso deles, abandonou seus anseios...

Que ao vibrar com suas vitórias, esqueceu seu próprio mérito...

Que ao receber injustiças,
respondeu com seu amor...

E que, ao relembrar o passado,
só tem um pedido:

DEUS, PROTEJA MEUS
FILHOS, POR TODA
A VIDA!

Para você mãe, um mais
que merecido:

Feliz Dia das Mães!

terça-feira, 3 de maio de 2011

domingo, 1 de maio de 2011